sábado, 18 de dezembro de 2010

"CERTEZA DO INESPERADO"




Flores em botão arrancadas.
Secas.
Caídas sobre a terra nua e vermelha.
Tratores, máquinas movimentando tudo como se nada fosse.
Moto-serra.
O ar parado.
As árvores imóveis e mudas.
Hirtas de pavor e inércia.
Dentre elas, uma se agita.
As folhas se lançam ao ar num balé macabro.
Estrondo.
Tomba ao chão com todo o seu vigor.
A paisagem se modifica.
No início era tudo lento.
Agora um novo mundo vai surgindo, como se brotasse do nada.
Um nada provocado.
E tudo nos parece fatal e inevitável.
A vida assim nos parece.
Como uma grande fatalidade.
O destino está traçado.
E não nos apercebemos do modo como delineamos o futuro.
Como pautamos num presente incompreensível as sementes de um amanhã que nunca chega.
O cimento veste a terra. Como uma armadura a reveste.
E tudo fica limpo, asséptico, higiênico.
Mas a vida se prepara e responde.
De uma pequena rachadura no asfalto surge uma pequenina planta.
Na sua fragilidade esconde-se uma determinação firme e inabalável e ela rompe o asfalto e cresce e se desenvolve.
Bastariam dez anos sem que o homem circulasse pelas ruas de uma cidade para que a natureza a invadisse por inteiro e tomasse de volta o que é seu.
E tudo o que foi construído e toda civilização ruiria por terra.
Restariam os homens que, atônitos, perguntar-se-iam: E onde tudo está?
E como se foi?
É preciso que se reconstrua tudo novamente...
E perplexos, constatariam a inutilidade de todos os seus gestos.
Um exemplo fictício mas que bem demonstra a fragilidade da estrutura sobre a qual edificamos nossos sonhos: nossa vida.
Talvez ganhássemos mais se passássemos a nos vincular ao que verdadeiramente importa.
Se despertássemos nossa sensibilidade para o inesperado que a todo momento surpreende os nossos moldes pré-concebidos do existir.
Talvez pudéssemos compreender os seus avisos, a sutileza de suas sugestões a nos propor entradas e saídas.
Talvez, assim, não veríamos nos grandes atos de transformação mais do que necessidades planetárias, mais do que respostas aos anseios secretos de milhões de seus habitantes.
Nós sabemos de tudo isso.
É que estamos esquecidos.
Aprendemos assim.
Não estamos habituados às mudanças de paradigma e o que julgamos surpreendente e inesperado nada mais é do que uma entre as muitas possibilidades.
Mas se esperarmos por ela, outra diferente virá.

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