sábado, 12 de fevereiro de 2011

Andarilho de si!




Por querer ser exato, podamos as arestas.
Podamos! Amputamos aquilo que poderia ser um galho
no conjunto que tornasse nossa árvore mais frondosa,
portanto nos fazemos menos que poderíamos ser.
Querendo ser sempre certo, privamo-nos de errar,
anulamos a margem de erro de nossos planos,
esquecendo que para descobrir novos e
outros caminhos é necessário errar.
É errando pela vida, na queda livre
do existir que somos arrebatados por nós mesmos.
E que nos faz perguntar o porquê de
esperar tanto tempo para tal acerto de contas.
Busca pelo perfeito nos leva aos caminhos do impossível,
ao labirinto dos verbos, dos aniversários ...
E é neste lugar nenhum,
onde nos refugiamos de nós mesmo
que nos encontramos com aquilo que
queríamos ser e que de fato nunca seremos.
Uma projeção de um eu perfeito que
não consegue sair do labirinto caleidoscópico que é a vida.
Numa esquina destes caminhos assimétricos
que somos surpreendidos com o encontro do que somos
com aquilo que queríamos ser,
do rosto talhado de sol e suor,
com os olhos do “faz de conta”,
do homem com o menino.
Do homem que açoitado mantém-se de pé por teimosia e
que dorme e sonha no fim do dia por Ironia.
Do menino que empunhando uma espada de madeira,
um lápis e se alimentando de sonhos é capaz de
vencer até o mais abissal dos medos e re-colorir
até o mais cinza dos mundos.
E é esse menino, que causa o pavor do andarilho no labirinto,
andarilho de si,
um homem esgotado pelas notas monótonas dos dias gris,
esse monstro devorador dos próprios sonhos.
É o bicho-do-homem que se alimenta de sonhos, sorrisos,
perfeições, e que rouba dias do homem,
as cores do dia, e o brilho das cores.
Mas heis que chega o dia em que as pernas já não podem mais fugir,
não mais se consegue correr, e que o medo serve de alimento para
o enfrentamento final.
Quando se cerra os punhos , estufa o peito e vai de encontro
ao bicho-do-eu e se da conta que ele é apenas uma criança
com uma espada de madeira, chapéu de jornal e
sonhos de riscos de cera e papel.
Vê que sua força se fez não pelos sonhos que realizou
ou pelos sonhos que sonhou, mas pelas tempestades que
passou e sonhos que guardou.
Que sua felicidade se dá não pelos sorrisos que se
deu às concessões que a vida lhe fez,
mas sim por ainda ter algum motivo, mesmo que mínimo, para sorrir.
O homem não foge a não ser de si mesmo no labirinto da vida.
Olhar para o que se era, para o que queria ser e para o que se é
demanda muitos passos errando nas curvas
deste labirinto, andarilho dentro de si.
Então se cessa a fuga de si mesmo, tomam-se pelas mãos e
juntos se levam a caminhar o pequeno homem e o grande menino.
Sair do labirinto, ver o mundo e aprender que
sua espada de madeira no máximo irá ser uma arma contra si mesmo e
que seu lápis não poderá criar lugares, nem colorir o mundo,
mas poderá colorir sua própria alma.
Este é o encontro que sempre tentamos evitar,
sempre tememos acontecer, por medo de se confrontar consigo mesmo.
O encontro do homem com o menino.
Menino pai do homem.
Homem sobrevivente do menino.
Homem que se esqueceu de ser menino e
o menino que nunca quis
sempre ser tempo...passando... ser tempo passado.

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