Podamos! Amputamos aquilo que poderia ser um galho
no conjunto que tornasse nossa árvore mais frondosa,
portanto nos fazemos menos que poderíamos ser.
Querendo ser sempre certo, privamo-nos de errar,
anulamos a margem de erro de nossos planos,
esquecendo que para descobrir novos e
outros caminhos é necessário errar.
É errando pela vida, na queda livre
do existir que somos arrebatados por nós mesmos.
E que nos faz perguntar o porquê de
esperar tanto tempo para tal acerto de contas.
Busca pelo perfeito nos leva aos caminhos do impossível,
ao labirinto dos verbos, dos aniversários ...
E é neste lugar nenhum,
onde nos refugiamos de nós mesmo
que nos encontramos com aquilo que
queríamos ser e que de fato nunca seremos.
Uma projeção de um eu perfeito que
não consegue sair do labirinto caleidoscópico que é a vida.
Numa esquina destes caminhos assimétricos
que somos surpreendidos com o encontro do que somos
com aquilo que queríamos ser,
do rosto talhado de sol e suor,
com os olhos do “faz de conta”,
do homem com o menino.
Do homem que açoitado mantém-se de pé por teimosia e
que dorme e sonha no fim do dia por Ironia.
Do menino que empunhando uma espada de madeira,
um lápis e se alimentando de sonhos é capaz de
vencer até o mais abissal dos medos e re-colorir
até o mais cinza dos mundos.
E é esse menino, que causa o pavor do andarilho no labirinto,
andarilho de si,
um homem esgotado pelas notas monótonas dos dias gris,
esse monstro devorador dos próprios sonhos.
É o bicho-do-homem que se alimenta de sonhos, sorrisos,
perfeições, e que rouba dias do homem,
as cores do dia, e o brilho das cores.
Mas heis que chega o dia em que as pernas já não podem mais fugir,
não mais se consegue correr, e que o medo serve de alimento para
o enfrentamento final.
Quando se cerra os punhos , estufa o peito e vai de encontro
ao bicho-do-eu e se da conta que ele é apenas uma criança
com uma espada de madeira, chapéu de jornal e
sonhos de riscos de cera e papel.
Vê que sua força se fez não pelos sonhos que realizou
ou pelos sonhos que sonhou, mas pelas tempestades que
passou e sonhos que guardou.
Que sua felicidade se dá não pelos sorrisos que se
deu às concessões que a vida lhe fez,
mas sim por ainda ter algum motivo, mesmo que mínimo, para sorrir.
O homem não foge a não ser de si mesmo no labirinto da vida.
Olhar para o que se era, para o que queria ser e para o que se é
demanda muitos passos errando nas curvas
deste labirinto, andarilho dentro de si.
Então se cessa a fuga de si mesmo, tomam-se pelas mãos e
juntos se levam a caminhar o pequeno homem e o grande menino.
Sair do labirinto, ver o mundo e aprender que
sua espada de madeira no máximo irá ser uma arma contra si mesmo e
que seu lápis não poderá criar lugares, nem colorir o mundo,
mas poderá colorir sua própria alma.
Este é o encontro que sempre tentamos evitar,
sempre tememos acontecer, por medo de se confrontar consigo mesmo.
O encontro do homem com o menino.
Menino pai do homem.
Homem sobrevivente do menino.
Homem que se esqueceu de ser menino e
o menino que nunca quis
sempre ser tempo...passando... ser tempo passado.
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