quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"O cego na calçada"



Um cego, na calçada, esperava por alguém que o ajudasse a atravessar a rua. Ofereci-lhe os meus préstimos e agradeceu.

Era um homem de uns 60 anos. Bem vestido. Não era um mendigo. Tinha, no entanto, um ar de tristeza no rosto.

No meio da travessia, agarrou-me mais fortemente o braço, encostou levemente a cabeça no meu ombro e começou a chorar. Era um gemido silencioso.

Ao chegarmos ao outro lado da rua, perguntei-lhe se estava se sentindo mal. Respondeu-me de uma forma suave, muito consciente - percebia-se que era um homem inteligente - que não se sentia mal, no conceito comum da palavra, mas que estava sentindo um grande mal na alma.

E acrescentou textualmente: - Sinto-me só, muito abandonado. E a solidão é pior do que a cegueira. Quando se é cego e alguém lhe acompanha com carinho, há sempre uma luz por dentro. O pior é quando tudo está apagado. Isto é o que acontece comigo: falta-me carinho.

Impressionou-me extraordinariamente e perguntei:. - Posso ajudá-lo em alguma coisa?

- Não. Reze por mim, acrescentou. Será uma boa companhia.

Pensemos então em tantos que talvez tivessem passado ao nosso lado, que não eram cegos, mas que sentiam que lá por dentro estava tudo apagado... e nós não percebemos.

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