terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"RASCUNHO"




Peguei a caneta.
Eu queria escrever.
Mas ela permaneceu quieta, calada,
nenhum traço no papel. Ela nada ela fez.
Escrever o quê?
Falar de quê?
Dos desarranjos do mundo?
Das penas amargas?
Do desamor que grassa?
Falei, certa vez, de Deus.
Foi quando me perguntaram:
quem é esse aí que eu nunca vi?
Quem é essa muleta dos fracos? Afinal, quem é esse aí?
Então falei do seu filho e vejam só o que ouvi:
— O filho desse tal ser, é o filho que chamais Rabi?
Foi mais um idealista, talvez um lunático que passou pelo mundo.
Ainda bem que passou, se foi e eu não vi.
Com raiva, então, perguntei:
— E teu Deus, então, quem é?
Pois não há ser que possa viver sem nenhum,
mesmo que chame Mané.
A resposta ouvi, então, em uníssono.
Milhares de vozes, talvez milhões.
O único Deus que realmente impera também é chamado rei.
Rei isto, rei aquilo, talvez até um tal Midas,
o que importa, é que seja rei.
Que diante dos seus pés todos se dobrem e que, por ele,
alguns vendam sua própria alma.
Este sim é Deus, um Deus que tudo compra,
que a todos compra.
E disto, nem Judas escapou.
"Cala-te caneta e chora comigo".
Ou, se puderes, desenha. Isto sim!
O novo homem.
Pois este que está aí, é apenas um rabisco,
um esboço e esperar por ele,
é esperar por pouco.

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